“O Homem é um buscador do Absoluto,
Um buscador a passos pequenos e incertos.”
(Bento XVI)
Escrito em Maio de 2023
A história de vida de um homem pode ser contada de várias maneiras. Como jornalista, isso me atrai não só por entender que tenho uma história interessante para contar, mas porque, de fato, tenho vontade de contá-la. Poderá, quiçá, um dia servir como inspiração a alguém. Entretanto, o que me move a registrá-la é a minha necessidade de reflexão sobre mim mesmo. Isso me ajuda de muitas maneiras a perceber de onde parti, o caminho pelo qual eu trilhei, quais dificuldades encontrei e de que forma as superei. Os detalhes e qualidades que venho compartilhar aqui isoladamente não são suficientes para me definir, afinal, somos um conjunto de coisas e assim seguimos somando até o nosso último dia.
É importante fazer esta ressalva, posto que aos três anos de idade fui diagnosticado com uma síndrome rara chamada Síndrome de Williams Beuren. Essa síndrome, por se tratar de uma deleção cromossômica, comporta vários níveis. O que me acomete é algo leve. Entretanto, quando se convive com um rótulo, as dificuldades relacionadas a este podem ser mais pesadas do que o próprio diagnóstico. Quero dizer que o ser humano, de um modo geral, tem a tendência de julgar o vinho pelo rótulo. A palavra “Síndrome” é pesada, enquanto seu real significado fica acobertado ignorantemente. Síndrome é uma reunião de possibilidades de saúde que cursam ou podem vir a cursar juntas. Esta determinação técnica facilita tratamentos e possibilita evoluir, e não é passaporte para que ninguém venha a lhe julgar pelo nome ou a aparência que ela possa vir a lhe dar. Contrariamente a isto, um primeiro olhar justifica que me atribuam limitações, muitas vezes maiores do que realmente tenho. Não foram poucas as vezes em que me lembro de ver meus pais apostando em situações que acreditavam que eu seria capaz de realizar, a despeito de prognósticos médicos ou da descrença de pessoas próximas, e foi tomando força na confiança gerada pelos meus pais que me formei jornalista e consigo dar conta de exercer minha profissão da exata forma como a imaginei no dia em que prestei o vestibular. Confiar em si é existir; o contrário é permitir que o rótulo predomine sobre a sua própria história de vida e dirija você a confirmar estudos laboratoriais. A minha história vem sendo escrita com as dificuldades e os prazeres que acredito façam parte da vida de qualquer mortal.
Eu me chamo Alexandre Derani Neto, nasci no dia 30 de janeiro de 2001, às 16:22h, na maternidade Pro-Matre Paulistana, em São Paulo. Sou aquariano, aventureiro. Dizem que somos pessoas diretas e que não gostamos de trapaças. Concordo plenamente. Prezamos por nossa privacidade e somos muito reservados, mais uma definição, mas que dessa ninguém escapa, a dos astros. Não sei se acredito nisso, posso transformar isso também a meu favor.





Vendo qualidade na dificuldade, portadores de SWB são considerados pessoas de grande sociabilidade, entusiasmo, sensibilidade, grande memória, tais como fisionomias, nomes, locais. Temos excessiva determinação relacionada a assuntos e objetivos específicos. O que isso quer dizer é que temos uma inteligência especialista; quando o assunto é de nossa paixão, somos capazes de chegar a entender e dominar detalhes e conteúdos como um cientista dedicado. Essa explicação é útil ao leitor que não está familiarizado com o assunto, ao passo que para mim é algo óbvio, uma vez que acredito que todo homem deveria ter como atividade algo de sua extrema paixão e, portanto, dominá-la e exercê-la com perfeição.
E por falar em paixão, a minha está nos motores, desde aqueles que acionam um automóvel até um Boeing. Começou lá atrás, quando comecei a falar e então podia verbalizar o que mais me encantava; uma das minhas primeiras palavras foi carro. Fui descobrindo coisas novas, eu tinha uma coleção de betoneiras e carros de bombeiro. Com dois anos, obviamente, eu ainda não era alfabetizado, exceção feita às palavras Volkswagen, Ford, Mitsubishi e qualquer marca estampada na traseira das minhas paixões. Aos três anos de idade, inexplicavelmente, eu era capaz de identificar um modelo de um carro por sua chave sem sequer tê-lo visto. Os anos foram passando, e meu mundo automobilístico foi ganhando cada vez mais detalhes. Lembro-me com uma vívida memória que, no primeiro ano escolar, meu professor nos passou um problema de matemática que consistia em contabilizar as rodas de veículos em um estacionamento. Dizia ele: “Estão estacionados quatro carros, duas motocicletas e duas bicicletas. Quantas rodas há no estacionamento?” Minha resposta, a princípio considerada errada, foi 28. Indignado, fui ao meu professor para contestar a correção. Com insistência, repetiu comigo a sua lógica; entretanto, sem desistência, coloquei a ele a minha, que levava em conta o esquecimento de algo tão simples quanto os steps que continham os carros, e então minha nota foi assim revista.
Com a minha alfabetização, um mundo de informações se abriram aos meus olhos. Tantos e tantos detalhes eu vim descobrindo lendo livros técnicos, revistas especializadas, sites específicos e então, para além da forma, conheci o que havia por dentro de fato: como performance, rendimento, autonomia. O tipo de coisa que deveríamos também fazer ao julgar e apreciar um ser humano, ir para além da forma.
Uma outra vantagem em ser Williams é ter propensão a sensibilidade auditiva acima da média. Tenho o que se pode chamar ouvido absoluto, o que me possibilita identificar desde uma única nota mal executada em toda uma orquestra – sou baixista – até um problema relacionado ao desempenho ou a falta dele em um motor, simplesmente por ouvi-lo funcionando. Sem nenhuma razão para qualquer modéstia, posso me lembrar de algumas situações onde um mecânico experiente se arrependeu de ter discordado de mim. Amo pesquisar, amo ler e amo escrever sobre as características dos mercados, seja de carros ou até aviões, afinal, estou a bastante tempo na área, quase vinte anos de dedicação em tempo integral. Meu trabalho de conclusão na faculdade de jornalismo foi dedicado ao comportamento mercadológico dos automóveis de luxo usados e semi novos, durante a pandemia da COVID-19. Este foi o motivo pelo qual escolhi a minha profissão, para que eu pudesse viver a minha paixão como profissional de mídia. Entretanto, voltando àquela citação inicial deste texto, onde ainda se compra o vinho pelo rótulo, empreender foi a maneira como viabilizei isso. Esta é a razão deste blog que hospeda minha autobiografia.
Você esqueceu de dizer que eu adoro vc 😂😂 aliás temos em comum a paixão por motores e velocidade.
Você é um jornalista completo pois escreve com a alma e com a vivência .